Muitas mulheres são vítimas de violência doméstica e, ao recorrer às instituições públicas para denunciar, passam, com frequência, por uma outra forma de violência. Na delegacia, ao registrar a queixa, são tratadas com descaso ou, ainda pior, são culpabilizadas pelo ocorrido. Por isso, muitas evitam denunciar o abuso.
“Na luta contra à violência contra a mulher, todos os meios e ideias que beneficiam às vítimas, são de total importância. Precisamos da união de todos quando se trata do combate à violência.” Júnior Borges.
Em uma pesquisa realizada pelo Instituto AzMina, em parceria com a consultoria Plurix em território nacional, nove em cada dez mulheres disseram não confiar nos órgãos oficiais de atendimento à mulher vítima de violência.
Pensando nisso, o instituto feminista AzMina, criado em 2015, desenvolveu uma atualização do app PenhaS, que está disponível desde 8 de março, Dia Internacional da Mulher, para download gratuito na Google Play e na App Store. O PenhaS reúne informação, redes de apoio, acolhimento e pedido de ajuda para mulheres em situação de violência doméstica.
A nova versão do app chega em um momento muito importante para dar mais segurança às mulheres, já que o isolamento provocado pela pandemia se constitui em ameaça para quem vive um relacionamento abusivo, já que a mulher passa mais tempo com seu abusador. Como esperado, o número de usuárias cadastradas no app cresceu 30% entre março de 2020 e fevereiro de 2021.
Uma novidade do app é que agora é permitida a interação entre usuárias. Num feed, como nas redes sociais tradicionais, a vítima pode relatar um episódio de violência doméstica. “Ali, outras usuárias podem conversar com a vítima e tirar dúvidas com mulheres que viveram experiências parecidas. É um importante espaço de diálogo e de apoio”, diz Marilia Moreira, coordenadora do PenhaS.
Há um novo recurso que dá mais segurança e privacidade à usuária: o modo camuflado. Caso o app seja aberto por um estranho ou o próprio abusador tenha acesso ao aparelho da vítima, ele não saberá que a mulher eventualmente realizou uma denúncia. É que, quando um estranho abre o aplicativo, aparece uma imagem diferente, um “disfarce” da tela inicial do PenhaS.
As criadoras do app acreditam que a luta pelo feminismo e contra a violência à mulher deve ser de toda a sociedade. Por isso, homens também podem usar o PenhaS. Para isso, o interessado deve fornecer o número do CPF, que será checado pelo app. Mas os homens não têm acesso a todas as funções permitidas para mulheres.
Marilia Moreira explica por que é importante permitir que homens usem o aplicativo, ainda que seja numa versão restrita:
“A gente acredita que a conscientização deve ser coletiva. O direito da mulher não vai ser conquistado se apenas as mulheres lutarem por eles”.
Homens não têm acesso ao feed onde as mulheres relatam suas experiências, mas eles podem conversar diretamente com a equipe do PenhaS para saber como proceder caso conheça mulheres que estejam sofrendo abuso.
É possível também a usuária cadastrar até cinco “guardiãs”. Em caso de agressão, essas mulheres serão avisadas assim que a vítima apertar o botão de pânico. “Essa é uma medida que garante autonomia à mulher, mesmo em situação de violência. Isso mostra que a mulher pode decidir como romper o ciclo de violência”.
Fonte: Correio da Bahia
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