Escolas públicas e privadas incluem educação financeira nos currículos

Pelo menos 500 mil professores das redes pública e privada do país deverão ser capacitados, no prazo máximo de três anos, na área da educação financeira. O objetivo da medida é disseminar o conhecimento sobre o tema entre estudantes do ensino básico. A expectativa é que cerca de 25 milhões de jovens sejam beneficiados.

“40% da população adulta no Brasil tem problemas financeiros. Por isso, um individuo com educação financeira conseguirá ter mais consciência e pé no chão quando o assunto é orçamento pessoal.” Júnior Borges.

Para isso, o Ministério da Educação (MEC) firmou parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que vai colaborar com a formatação dos conteúdos. Segundo informações na página do MEC, o curso de formação dos professores será gratuito, online e autoinstrucional. Fica faltando apenas a assinatura do convênio.

Entre os temas abordados, “formação de poupança”, “consumo consciente”, “orientação em investimentos”, “proteção contra fraudes financeiras”, “desenvolvimento de hábitos e atitudes que contribuem para o bem-estar financeiro”. Livros e material de apoio pedagógico serão distribuídos a docentes e alunos.

Segundo os especialistas ouvidos pela reportagem de A TARDE, a iniciativa é importante do ponto de vista de formação do indivíduo.

Professor de geografia e técnico pedagógico na Secretaria da Educação do Estado da Bahia (SEC), Duwillami de Arruda diz que, diante dos padrões de consumo impostos pela sociedade e sistema econômico vigente, é preciso “ensinar crianças, adolescentes, jovens, e até adultos, de forma a contribuir para a formação de uma nova mentalidade para lidar com as questões socio-econômicas”.

“Exerce um papel importante na formação de uma consciência em relação à responsabilidade social, ajudando na promoção da qualidade de vida das pessoas e do planeta, pois ela viabiliza a discussão sobre o consumo consciente e sobre o que, como e por que consumimos”, afirma.

Segundo ele, no âmbito estadual – ou documento curricular referencial da Bahia –, a temática é apresentada como tema integrador, sendo uma das estratégias pedagógicas que visam “estimular o exercício da cidadania”, ensinando esse público a “lidar com as decisões financeiras que assumirão durante a vida”.

“Por meio dessa temática integradora, os estudantes têm aprendido a fazer uma leitura do cotidiano, a planejar o seu futuro, e a realizar sonhos de forma sustentável e responsável, ou seja, evitando assim compras por impulso e, consequentemente, o endividamento, aspectos esses que certamente contribuem negativamente no desenvolvimento biopsicossocial. Muito além do que operar cálculos, eles aprendem a tomar decisões”, explica.

Segundo a educadora financeira Juliana Barbosa, nesse processo e no longo prazo, “ganha a sociedade como um todo”.

“Os benefícios são inúmeros. As crianças se tornarão cidadãos conscientes, que sabem fazer boas escolhas com o dinheiro, que consomem com sabedoria, e que buscam conquistar seus sonhos, aprendendo a poupar e ter disciplina. Além de desenvolver uma cultura de prevenção, entendendo a importância de pensar e planejar o futuro”, conta.

Matéria transversal

Juliana destaca que desde 2020 a disciplina se tornou “matéria transversal obrigatória”, mas que ainda são poucas as escolas que trabalham o tema.

“Infelizmente, ainda não é um tema difundido dentre a maioria das escolas. O papel da família no processo de educar financeiramente as crianças é muito importante, contudo, também é um grande problema, pois muitos adultos nunca tiveram educação financeira na infância e ao longo da vida não conseguem administrar bem as suas finanças”.

Mestre em matemática com foco em educação financeira, o professor do Colégio Antônio Vieira, Caio Bastos, chama atenção para o que está em jogo quando o assunto é educação e consumo.

“Na atual fase do capitalismo, o conhecimento, que sempre foi a referência na produção de mercadorias, é usado na produção de símbolos que servem como base de manipulação. Emoções e sensibilidades são exploradas e a subjetividade humana passa a ser alvo de campanhas que exploram a falta de conhecimento de matemática básica. Precisamos ficar atentos à naturalização do endividamento”.

“Ao consumir, estamos inevitavelmente nutrindo segmentos produtivos, materiais e simbólicos, e nos constituindo enquanto consumidores-cidadãos, significando que o consumo é um território de disputa de constituição da realidade. É nesse cenário de disputa simbólica que a educação tem importante papel formativo a desempenhar”.

Fonte: A Tarde

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