Após 11 anos de tramitação na Câmara dos Deputados, coordenadores de partidos da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) se reúniram, na tarde de terça-feira (8/11), às 14h, para debater a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 470/2005, que, junto a 11 matérias semelhantes, propõe mudanças no foro de prerrogativa para crimes comuns de autoridades públicas. A intenção do presidente do colegiado, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), é encontrar um consenso para que o tema seja apreciado, no máximo, na próxima semana. “Até o fim do mês, a gente vota com certeza”, garante Serraglio.
O presidente da comissão explica que alguns parlamentares queriam esperar a realização de audiências públicas com juristas e ministros do Supremo para esclarecer se a questão pode interferir na separação de Poderes, mas o deputado acredita que é melhor deixar o debate para a comissão especial, que tratará o tema em 40 sessões e chegará a um projeto final, caso a matéria seja aprovada na CCJ. “A proposta está na pauta da comissão, mas quero conversar com os representantes dos partidos para que a gente separe um dia somente para esse tema”, esclarece. Apesar de saber que a ideia é polêmica entre parlamentares, Serraglio acredita que não haverá muita briga. “É um assunto muito tortuoso para se enfrentar neste momento”, comenta o parlamentar, que defende a prerrogativa somente para os presidentes dos três Poderes.
Depois de muitas idas e vindas, o relator da matéria desde 2009, deputado Efraim Filho (DEM-PB), está otimista que conseguirá votá-la. Segundo ele, a resistência ao tema já foi muito maior na Casa e o caminho é que se consiga construir maioria para aprová-lo, pelo menos, na comissão. “É uma demanda da sociedade. O Parlamento não pode ser cego e surdo à voz das ruas. O foro privilegiado é um resquício aristocrático na Constituição”, comenta Filho. O relator explica que a PEC 470, originalmente, extingue a prerrogativa somente para deputados e senadores, mas, em seu parecer, ele propõe a admissibilidade de outras PECs que retiram o benefício de todas as autoridades públicas. “A ideia é aprovar a admissibilidade na CCJ e o mérito da matéria ser mais bem definido na comissão especial”.
Atualmente, prefeitos, deputados estaduais, governadores, desembargadores, membros dos Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e do Trabalho, presidente e vice da República, ministros, membros dos tribunais superiores, senadores e deputados federais são contemplados pelo benefício de serem julgados somente em instâncias superiores. Ao todo, estima-se em 22 mil profissionais no país. Para Filho, o foro privilegiado cumpriu um papel importante na história quando protegeu parlamentares que fizeram oposição ao regime militar e contribuíram para o retorno da democracia, mas é um modelo que se esgotou. “O foro parece, talvez, o maior símbolo da impunidade no Brasil. E, se a prioridade hoje é o combate à corrupção, é preciso que ele acabe para todos os Poderes.”
Fonte: Correio Braziliense
Seja o primeiro a comentar