Sinais de alerta na economia

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A nova aceleração da taxa de inflação no mês de abril, mesmo que o resultado em 12 meses tenha apresentado queda, soa como um alerta para os rigores do cenário econômico em que atuará o provável governo de Michel Temer. A taxa mensal de 0,61% do IPCA, superior ao índice de 0,43% do mês anterior, veio acima das expectativas do mercado. E reforçou o recado contido na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de que não há espaço para flexibilização da política monetária no horizonte visível. A contínua deterioração da avaliação da economia brasileira pelas agências de risco completa esse cenário adverso.

A repercussão da mensagem mais dura do Banco Central foi visível ainda ontem nos mercados financeiros, que ajustaram as expectativas de que a queda da taxa Selic, hoje fixada em 14,25% ao ano, pudesse ocorrer até mesmo a partir do próximo mês. As apostas se alongaram depois da divulgação da ata e podem sofrer novas calibragens diante da maior resistência que o comportamento da inflação demonstrou no mês de abril. O grupo de alimentação e bebidas, por exemplo, apresentou uma elevação de preços superior a 1%. Os itens de saúde e cuidados pessoais, como se esperava, aumentaram 2,33% no período.

Avaliações mais definitivas sobre um padrão menos favorável dos índices de preços neste ano ainda dependem de dados que serão apurados à frente, mas é possível afirmar que a estratégia idealizada para o provável período de mandato de Temer sofre consequências diretas da persistência do quadro inflacionário. Sem uma queda mais consistente dos índices de inflação, seria temerário que o Copom indicasse a possibilidade de redução da taxa Selic. Nesse contexto, fica mais difícil contar com o alívio que o corte na taxa básica de juros, a curto prazo, poderia proporcionar nas contas deficitárias da União.

As despesas com o pagamento de juros da dívida pública são extremamente elevadas no Brasil e estão previstas, neste ano, em R$ 304,1 bilhões, de acordo com a programação orçamentária encaminhada pelo governo ao Congresso. Assim, qualquer dose de alívio na taxa de juros poderia contribuir para melhorar os indicadores fiscais e a proporção da dívida bruta em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). No comunicado que divulgou ontem, depois de um novo rebaixamento da nota de crédito brasileira, a agência de classificação de risco Fitch mencionou que a dívida bruta brasileira pode representar 80% do PIB em 2017.

Em comum, o documento da agência e a ata do Copom registraram o impacto dos chamados eventos não econômicos, que continuam a carregar de incertezas o cenário econômico brasileiro. Os acontecimentos políticos, que se sucedem de forma vertiginosa e com gravidade crescente, têm relação direta com o ambiente de instabilidade em que os negócios se desenvolvem e as decisões de investimento são tomadas. Para os integrantes do Copom, o processo recessivo do país, com a queda contínua do PIB, sustenta a previsão de um resultado ainda mais negativo neste ano do que a retração de 3,8% registrada no ano passado.

“Esse processo está sendo especialmente intensificado pelas incertezas oriundas do efeito de eventos não econômicos”, está dito na ata divulgada ontem pelo Copom. O cenário de incertezas tem um forte componente na área fiscal, que continua a se comportar de forma expansionista, numa linha de continuidade com o déficit primário de R$ 117 bilhões do ano de 2015. Até agora, a expectativa é que esse número se eleve ainda mais em 2016, para algo próximo a R$ 120 bilhões – mesmo que a conta atrasada das chamadas pedaladas fiscais tenha sido quitada no final do ano passado.

Nesse período que antecede a decisão sobre o seu destino político, a presidente Dilma Rousseff ainda anunciou novas medidas que impactam as despesas públicas de forma negativa, na tentativa de marcar um perfil favorável de seu período de governo. A possível transição para uma nova administração está cercada, portanto, de desafios de grande magnitude na área econômica. O esforço necessário para aprovação de medidas fundamentais pelo Congresso Nacional, algumas das quais podem ser francamente impopulares, também se apresenta mais complexo diante do afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, determinado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Fonte: G1

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