Com a crise, tão assustadora, o mercado de arte ruiu em todo Brasil. Algumas galerias fecharam as portas, outras viram suas vendas diminuírem. Ruim para marchands, péssimo para o artista. O mercado de arte é muito sensível a oscilações, por ser uma série de transações de compra e venda, intenção entre compradores e vendedores, conforme a lei da oferta e da procura. Os artistas estão buscando fontes alternativas de renda, fazendo gravuras que é mais barato, dando aulas de desenho, pintura, história da arte, de inglês ou arranjando um emprego de meio turno. Para quem vive só de arte é hoje extremamente difícil manter o padrão e muitos procuram fazer um trabalho mais diretamente ligado ao olhar, por ser mais fácil de comunicação e possivelmente de vendas.
Essa “descomplicação” menos cerebrotônica e mais festiva termina influenciando a obra do artista e tornando seu fazer mais frágil, perdendo a pujança, o vigor, a robustez, a grandeza de sua gramática visual. O artista, como qualquer outro profissional, precisa viver com dignidade da sua produção. A crise, que já se tornou um bordão, – tudo é a crise -, fica como vetor impeditivo do escoamento de bens culturais. Mesmo o indivíduo com algumas reservas vive em pânico, com medo do que virá, com fantasias catastróficas de futuro, ou realidade. Quando tudo isso vai passar? Nem as Pitonisas, sacerdotisas do deus Apolo, na Grécia antiga em Delfos, que tinham o supremo poder de adivinhar, sabem. As Pitonisas parecem que foram demitidas, saíram dos seus trípodes ou cadeira alta com três pés de onde divulgavam suas exalações proféticas. Tudo ficou em desesperança, é o que as Pitonisas, hoje vagando pelas notícias do dia a dia, os acontecimentos, concluíram.
O mercado de arte é subjetivo, heterogêneo e não se sustenta em visão economicistas. As variáveis são muitas, o risco é elevado e cabe aos vendedores e compradores a lisura de intenções. Fama não equivale a prestígio, preço não significa qualidade e muitas vezes o talento não é vetor de vendas, “não compra o ouro”.
Tudo pode caber no mercado de arte, o inusitado é uma constante. O acerto e o erro se irmanam, a euforia e a decepção são próximas. Arte é um grande investimento em longo prazo. Mas não há futurologia no mercado de arte, quem ontem vendeu obras por milhões hoje não consegue a metade e amanhã pertence ao insondável futuro.
Um caso lapidar é do pintor inglês Damien Hirst (foto), um dos mais importantes do Reino Unido, com uma fortuna pessoal US$ 299 milhões de dólares. Agora, ele tem seus preços bem menores que os produzidos na década de 1990. Aos 51 anos, ele declara “A gente começava a acreditar que estava ungido por Deus. Sempre pensei que a arte vale o que querem pagar por ela. Tudo que sobe desce e quando se quer vender uma obra nova ou se espera até que as pessoas se capitalizem e possam comprar ou se vende mais barata. A obra de arte está regida pelas leis do mercado”.
Artista vivo mais cotado do mercado internacional, Damien Hisrt tem uma carreira controvertida, uma parte de crítica especializada o endeusa e outra o execra. Robert Hughes, mais conhecido crítico de arte do mundo, falecido em 2012, aos 74 anos, foi por 30 anos crítico e editor da revista americana Time. Ele dizia de Hirst: “Vamos ver daqui a vinte anos quanto se pagará pelas besteiras de um sujeito como Hirst”. Hughes era profundamente erudito, construía e destruía reputações, sempre baseado em juízos de valor e estudos sobre cada artista que escrevia.
Quanto aos marchands, os que ainda sobrevivem, cortaram gastos, deixaram de realizar exposições e leilões, trabalham com sites, whastsapp, parceria com decoradores, arquitetos e outras galerias. Resistem e esperam mudanças, isto ocorre em todo país. Existe crise, sim. Mas o nome virou também desculpa para evitar transações comerciais, investimentos, empréstimos, mas “Tudo passa! A missão de tudo é passar”.
Fonte: Correio
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