Via Expressa cria alternativa de trânsito em área caótica de Salvador; veja o que muda

Quando a Avenida Paralela foi inaugurada, Salvador ganhou, então, a maior obra viária de sua história: 14 quilômetros de vias para desafogar o trânsito e facilitar o acesso ao norte da cidade. Isso foi na década de 1970 e a Paralela não facilita mais nada.

Hoje, a capital baiana ganha uma nova via com objetivos parecidos: os 4,3 quilômetros da Via Expressa Baía de Todos os Santos cortam a cidade entre o porto e a BR-324, evitando que os motoristas passem por gargalos crônicos.

Junto com os viadutos da Rótula do Abacaxi, a via causará impacto em áreas como Cabula, Retiro, Cidade Baixa e Avenida ACM, além de todos os bairros que margeiam a BR-324.

Após quatro anos de obras e R$ 480 milhões de investimento, a via será inaugurada, hoje, com a presença da presidente Dilma Rousseff e do governador Jaques Wagner.

O conjunto de faixas, elevados e túneis, apontado pelo governo como a maior obra viária de Salvador nos últimos 30 anos, vai possibilitar, por exemplo, que veículos de carga saiam do Porto de Salvador para a BR sem passar pela Bonocô ou Rótula do Abacaxi.

Atualmente, de acordo com a Transalvador, trafegam 2.030 veículos de carga diariamente na Avenida Bonocô, entre a Fonte Nova e o Iguatemi. Pela Via Expressa, os caminhões poderão trafegar durante todo o dia, sem restrições de horário. A restrição passa a vigorar na Bonocô.

Mas a via não servirá apenas para caminhões. Das dez faixas de rolamento, quatro serão para veículos de carga e seis para tráfego urbano. O trajeto entre o Porto e a BR-324 será reduzido em 3,2 mil metros e estima-se que ele poderá ser percorrido em pouco mais de cinco minutos. O fluxo estimado será de 63 mil veículos por dia – 3,5 mil de carga e 59,5 mil outros veículos.

Análise 

Enquanto pedestres ainda andavam tranquilamente pelas faixas de rolamento, o CORREIO percorreu parte do trajeto nesta quinta (31) ao lado da arquiteta especialista em transporte e trânsito Cristina Aragón.

“Todos os caminhões que vêm da BR virão por aqui e também todos os veículos que saem do Cabula, de Pernambués, em direção ao ferry-boat, também deverão usar. Vai ficar ainda melhor quando estiver pronta a ligação da Luis Eduardo ao Acesso Norte”, observou.

Para a arquiteta, os resultados futuros da obra serão positivos, embora ela chame a atenção para a inexistência de uma solução definitiva para o trânsito. “O sonho da fluidez acabou. Eu gosto de falar em alternativa para o trânsito, porque solução não existe”.

Já o engenheiro especialista em trânsito Elmo Felzemburg diz que a via é importante para a cidade, principalmente a ligação entre Água de Meninos e os Dois Leões, iniciada há cerca de 15 anos, porém interrompida. “É uma via muito importante, mas não podemos esquecer que Salvador precisa de uma rede de vias rápidas”, afirmou.

Cinco anos

 Para Aragón, o uso da Via Expressa e a melhoria no tráfego das vias que a margeiam é uma questão de tempo e adaptação. Ela estima que, pelos próximos cinco anos, os motoristas não devem enfrentar na via problemas de congestionamento, como se vê hoje nas avenidas Paralela e Luis Eduardo Magalhães. “Trânsito é oferta e procura. Por um tempo, ela vai descarregar, mas depois, com o próprio aumento da frota e a notícia de que as coisas estão melhores, as pessoas vão procurar andar mais”.

Para que a Via Expressa fosse construída, 650 imóveis foram desapropriados. Os que restaram certamente serão valorizados, segundo a especialista. Com a circulação intensa, novos estabelecimentos comerciais, restaurantes e bares devem surgir.

Os imóveis, para ela, também deverão ficar mais caros. Mas é preciso ter segurança. Segundo moradores, a iluminação é precária e os assaltos são constantes.

As novas vias beneficiarão, diretamente, moradores de Macaúbas,  Baixa de Quintas, Caixa D’Água, Pau Miúdo, Cidade Nova, Vila Laura, Santa Tereza, Pernambués e Cabula. O trajeto da Via Expressa passa por Água de Meninos, Ladeira do Canto da Cruz, Estrada da Rainha, Largo Dois Leões, Avenida Heitor Dias, Rótula do Abacaxi, Ladeira do Cabula e Acesso Norte.

Além das vias, o trecho de 4,3 quilômetros ganhou três túneis – sendo um de dois andares -, 14 elevados, 3,2 quilômetros de ciclovias e duas passarelas (uma da Estrada da Rainha e outra na Heitor Dias).

Para os pedestres, no entanto, Cristina Aragón ainda vê algumas necessidades. Para ela, é preciso construir pelo menos uma passarela na Avenida Barros Reis, já que todos os veículos que saírem de Pernambués e do Cabula vão precisar fazer o retorno na avenida antes de acessar a Via Expressa ou seguir em direção ao Iguatemi.

A Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte (Semut) informou que linhas de ônibus devem passar por ali, mas o remanejamento ainda está sendo estudado e só ocorrerá quando a população for informada sobre os novos pontos e trajetos. A previsão é que as linhas que vão passar pela via sejam indicadas na licitação do transporte que a prefeitura pretende lançar em breve.

Motoristas criam expectativa com nova via

Mesmo antes da inauguração da Via Expressa, os caminhoneiros já comemoravam. Eles vão contar com quatro faixas exclusivas para percorrer o trecho entre a BR-324 e o Porto de Salvador, no Comércio. Até ontem, a alternativa era seguir pela Avenida Bonocô. “Só de não ter que pegar a Bonocô já é um alívio. Do Porto para a BR é  normal  perder duas, três horas. Essa via vai ser uma salvação”, disse, em tom otimista, o caminhoneiro Manoel Cosme, 45 anos.

Mas não são só os caminhoneiros que têm boas expectativas. Com as novas vias abertas, o taxista Edson Hora, 62, espera não ter mais que recusar corridas para a região do entorno da Via Expressa. “Pode ser a melhor corrida do mundo… Se for nos horários de pico, eu recuso. Por isso, se melhorar mesmo, vai ajudar bastante”.

No vai e vem do trânsito, o que todos esperam é que outras obras viárias de impacto não demorem a chegar. De acordo com estimativa do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), cerca de 2,5 milhões de veículos vão circular por Salvador e Região Metropolitana, o triplo da quantidade atual.

Os dados foram discutidos pelo Sindicato de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco) em um seminário na tarde de ontem. O estudo do Denatran já foi realizado em sete capitais, sendo quatro no Nordeste, além de Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre. A situação de Salvador foi considerada a pior, levando em conta a relação entre quantidade de veículos e infraestrutura urbana.

Ciclovia de 3 km vira pista de obstáculos

Os 3,2 quilômetros de ciclovia ao longo da Via Expressa vêm atender a uma demanda dos ciclistas da capital. Além desse trecho, que será inaugurado hoje, Salvador só possui ciclovias na orla e uma ciclofaixa no centro da cidade durante os finais de semana.

O problema é que trafegar pela ciclovia da Avenida Heitor Dias é um desafio, pois no caminho há montanhas de lixo, carros estacionados e até um boneco de ferro. Batizado de Esquisito, ele é uma espécie de publicidade da loja Pinheiro Escapamentos. Mas, para Fábio Pepe, funcionário do estabelecimento, o boneco não atrapalha.

“Sei que não justifica, mas quase ninguém passa na ciclovia. Ele (Esquisito) já está aqui há dois anos, virou xodó da rua. A ciclovia tinha que ser feita do outro lado, não aqui, que tem comércio”, disse. Já os que usam a ciclovia como estacionamento dizem não ter alternativa.

“Não tinha vaga. Tive que ir até as lojas, mas só demorei 15 minutos. Eu também sou ciclista, sei como é difícil”, justificou o produtor cultural Cristiano Ferreira. Segundo a Transalvador, a Via Expressa contará com fiscalização constante. Estacionar na ciclovia, por exemplo, é infração grave, com multa de R$ 127,69 e risco de ter o veículo removido.

Além desses problemas “móveis”, a arquiteta Cristina Aragón apontou ontem também questões estruturais que, na sua visão, precisam ser pensadas. “Eu acho que tem que ter uma complementação às passarelas da Barros Reis, principalmente. E acho que, talvez, seja preciso fazer algo com relação à General Argollo (Baixa de Quintas)”, disse.

Ela sugeriu a duplicação da Avenida Glauber Rocha, para retirar o tráfego da Baixa de Quintas e melhorar o fluxo para quem vem do Pau Miúdo e da Caixa D’Água. Segundo a Conder, já está planejada a  construção de uma passarela na Barros Reis. Quanto à duplicação da Glauber Rocha, não há projetos.

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