Mais tradicional evento para o debate sobre as questões culturais que envolvem nossa sociedade, começa nesta terça-feira, 27, e segue até o próximo dia 30, a 17ª edição do Enecult – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. A transmissão de todas as atrações será feita pelo canal de YouTube (youtube.com/enecult) e pela página no Facebook (@grupocult), e a programação completa pode ser consultada no cult.ufba.br/enecult.
O ano passado, já em função do alastramento do novo coronavírus, o evento foi realizado em um formato mais compacto. Mas este ano serão 15 mesas coordenadas, três Diálogos Emergentes, quatro mesas especiais, além da apresentação de 325 artigos, mostra audiovisual e lançamento de livros. Tudo aberto ao público e com tradução em libras. O encontro irá discutir as encruzilhadas vividas por esse setor fundamental da sociedade, sobretudo depois da decretação da pandemia, há quase um ano e meio.
“Quando o Enecult surgiu, em 2005, o objetivo central era criar um espaço qualificado de debate e reflexão sobre temas relacionados à cultura a partir de uma perspectiva multidisciplinar. Somado a isso, o evento sempre buscou dialogar com a realidade dos contextos atravessados pelo Brasil e pela América Latina, pois vemos a cultura não apenas como categoria teórica, mas como recurso crítico para a mudança social e a construção de maior cidadania, participação, justiça social e democracia. Acreditamos que o Enecult vem cumprindo esses dois propósitos”, comenta Natalia Coimbra, coordenadora do evento.
Com o intuito de debater o cenário de escassez de políticas culturais, a abertura acontece nesta terça, às 10h, com apresentação da mesa A Cultura na encruzilhada – tema do encontro. O senador Paulo Rocha (PT-PA), autor da Lei Paulo Gustavo, a cantora e compositora Margareth Menezes e a professora Natalia Coimbra participam da atividade.
O encontro terá ainda participações especiais da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), autora da Lei Aldir Blanc, e da Orquestra Sinfônica da Bahia.
“Ao mesmo tempo que paralisa ou desafia, essa encruzilhada também abre novos caminhos. Pensamos o Enecult como um lugar e um momento de dar um abraço na cultura, ainda que virtualmente. E também um espaço para dialogarmos sobre questões essenciais de como esse panorama pode ser resolvido, quais as políticas públicas e de que modo elas impactam a cultura, o fazer cultural e a vida das pessoas. Acreditamos que as reflexões teóricas e empíricas, a ciência e o afeto podem e devem andar juntos”, analisa Coimbra.
Corpo e cultura
Cerca de 1,5 mil pesquisadores de todo o Brasil e de outros países participam dos quatro dias do encontro que, pelo segundo ano consecutivo, terá formato exclusivamente online e é promovido pelo Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (Cult) da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A Cultura na encruzilhada, Impactos da Covid-19 na Cultura: avaliação da Lei Aldir Blanc, Brilho e Resistência – Mesa em homenagem à Baga de Bagaceira e Cultura: entre a lida e a vida compõem as quatro mesas especiais do evento.
Para a professora Renata Pitombo, que participa da mesa Brilho e Resistência… sobre gênero e sexualidade, é preciso pensar nas práticas performativas como processos segundo os quais determinados sujeitos empregam seus corpos na experiência de compartilhar uma ação com o outro e se inserir em comunidade.
“As dinâmicas de gênero e sexualidade são tecidas e retorcidas culturalmente. Corpo e cultura mantêm uma relação de reversibilidade, pois o próprio corpo e´ sempre instituído e, enquanto tal, é um corpo simbólico, um corpo cultural. Assim, as questões de gênero e sexualidade que perpassam nossos corpos são fundantes para nossa relação com o outro e com o mundo”, observa Pitombo.
Crise precede a Covid
Novidade nesta edição, a série Diálogos Emergentes apresenta debates sobre questões contemporâneas, seguidos de lançamento de livros. Tudo nas três primeiras noites do evento e sempre às 19h.
Já no último dia, às 14h, acontece a mesa especial Pesquisa impactos da Covid-19 na Cultura, que analisa a experiência da lei de emergência cultural Aldir Blanc diante da pandemia. O encontro conta com a participação dos pesquisadores do Observatório da Economia Criativa da Bahia (Obec-Bahia), Daniele Canedo, Beth Ponte, Ernani Coelho Neto e Carlos Paiva.
“A pesquisa este ano busca entender como foi este processo de execução da lei nas diversas regiões do país, qual a forma que ela adquiriu nos estados e capitais e como os trabalhadores e organizações da cultura avaliaram a implementação e o impacto em seus campos de trabalho. Para os que conseguiram sobreviver ao período, a pandemia exigiu de todos o uso máximo da criatividade e uma reflexão profunda de qual era o papel daquele profissional ou organização para sua comunidade”, explica Paiva.
Um dos objetivos do Enecult é também refletir sobre a cultura e seus trabalhadores, as artes, a produção e as políticas culturais, a economia criativa e as mais diversas perspectivas que dialogam com os estudos sobre a cultura. Natalia gosta de ressaltar que a grave crise que os setores cultural e criativo vêm atravessando, no Brasil e na Bahia, precede a pandemia.
“Além da crise econômica atravessada pelo país, esses setores vêm enfrentando o desmonte das políticas públicas para a cultura e reiteradas tentativas de desqualificação e censura das artes e do campo cultural, inclusive por parte de gestores públicos vinculados ao governo federal”, finaliza Coimbra.
Ao longo de 17 anos, o Enecult teve a participação de milhares de pessoas, apresentou mais de três mil trabalhos e contou com a presença de inúmeros pesquisadores reconhecidos internacionalmente.
Fonte: A Tarde
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