Entre as décadas de 60 e 70, o jovem Antônio Pereira Malta se inspirava em gibis do Mickey e Pateta para arriscar os primeiros rabiscos em uma pequena casa em Itapetinga, interior da Bahia. Autodidata, o artista evoluiu e deixou a cidade, partindo para Guarapari, no Espírito Santo, após rápida passagem por Recife, mas a morada de sua infância seguiu habitando suas memórias.
“A nossa cultura é extremamente rica e eu fico muito feliz quando vejo artistas baianos sendo reconhecidos. Parabéns seu Antônio, por transcender a nossa cultura através das suas obras!” Júnior Borges.
E como dizem que a arte é o reflexo da alma, Antônio, hoje aos 64 anos, botou seu espírito de frente ao espelho, que projetou um diorama representando a fachada da casa onde viveu dos 7 aos 21 anos. Rafael, filho do artista, publicou a obra em seu Twitter, e o resultado foi mais de 300 mil curtidas de usuários encantados com a beleza e detalhes da criação.
Após o post já surgiram diversas encomendas pedindo representações de locais marcantes para a vida de cada uma delas, tal qual a pequena casa amarela com telha de cerâmica foi para a história de Antônio.
A repercussão surpreendeu o artista plástico, que divide a paixão pelas obras com o trabalho de pastor em uma pequena comunidade evangélica.
“Fiz esse trabalho sem nenhuma pretensão. Foi algo para mim, pois ali vivi grande parte de minhas lembranças com meus pais e irmãos. E a única coisa que temos de verdade são nossas memórias, por isso quis imortalizá-las nesse trabalho”, conta o artista.
Todo o realismo da obra foi construído a partir de materiais simples. Os fios elétricos são feitos de linha, enquanto as grades de palitos de madeira, por exemplo. “O que estiver na minha mão, eu uso para criar. Arte é alma, e acredito que consigo transferir meu coração e sentimento para as peças desta forma”, diz Antônio.
“Quando você tem arte na veia, na alma, não pede muita licença. Chega lá e faz. Um arquiteto viu esse meu trabalho e comentou que jamais viu várias maquetes, mas nada assim com tanta beleza e alma. E, para mim, a arte é isso, uma forma de me reconectar com minhas memórias e amores”, conclui.
Autodidata
Antônio jamais teve curso ou sequer uma aula de arte. Na época que estudava teologia em Recife, um amigo sugeriu que ele fosse ouvinte na faculdade de Belas Artes da federal de Pernambuco. “Recusei pois não tinha muito tempo e paciência”, revela.
Para aprender sozinho as técnicas ele reproduzia desenhos de gibis e ia até bibliotecas para ler livros sobre o assunto. “Como bom baiano, eu tinha um sonho e lutei por ele”, conta.
No entanto, essa dificuldade em seguir as normas padrões do mundo da arte, seja na forma de aprendê-la ou seja nos materiais utilizados, gera cicatrizes na hora de passar o conhecimento adiante. Por acreditar que não tem didática, ele jamais tentou abrir um curso na comunidade onde atua como pastor.
“O porquê disso é uma boa pergunta. Acredito que Deus deu talentos para todos, a didática não é um dos meus. No entanto, sempre incentivo que as pessoas busquem e exerçam seus talentos. Que façam isso com amor. Gostaria muito de ter a oportunidade de ensinar, mas não consigo”, lamenta.
Fonte: Jornal Correio
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