Muitos baianos aceitaram ser voluntários da pesquisa da Universidade de Oxford, do Reino Unido, que está desenvolvendo uma vacina para a covid-19 em parceria com a biofarmacêutica AstraZeneca. Nesta segunda-feira (20), cientistas afirmaram que a droga é segura e funciona.
“Vários testes estão sendo realizados, a ciência está mostrando resultados. Creio que logo teremos uma vacina segura e que combata o coronavírus”, comentou Júnior Borges.
Segundo o médico Claudio Ferrari, diretor de comunicação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, responsável pelo estudo em Salvador, cerca de dois mil baianos se inscreveram. O número exato, no entanto, não foi divulgado pelo grupo, que ainda precisa e pede que mais voluntários façam a inscrição.
Ao todo, 50 mil pessoas participam dos testes em todo o mundo, sendo 10% delas no Brasil. Os brasileiros estão previstos para receber a dose na terceira fase de vacinação. Os resultados positivos até aqui são das duas primeiras fases dos testes de imunização. Ainda está sendo estudado o protocolo, mas cientistas acreditam que o efeito deve ser reforçado com uma segunda dose.
Serão cerca de 2 mil pessoas na Bahia, 2 mil em São Paulo e outras 1 mil no Rio de Janeiro. “Ao todo, no país teremos cinco mil: dois mil em São Paulo e mais três mil distribuídos entre Rio de Janeiro e Salvador”, disse o médico. Confira, no final do texto, um tira-dúvidas sobre o estudo.
Voluntários
Duas das milhares de baianas inscritas são a enfermeira Maricésar Silva, 49 anos, e sua filha, a jornalista Maria Paula Marques, 23 anos. A mãe trabalha em contato direto com o público, justamente no setor de imunização de uma Unidade de Saúde da Família.
“Já participei de campanhas de vacinação da Influenza e Sarampo, por exemplo. São 10 anos trabalhando só nessa área. Sei a importância de uma vacina”, descreveu.
A unidade de saúde que a enfermeira trabalha, em Itapuã, também é, atualmente, uma unidade de referência para atendimentos de casos leves de covid-19, o que a deixa bem exposta ao vírus. “Os meus pais são idosos e eu sou filha única, ou seja, preciso dar um suporte para eles quando acontecem algum problema, independentemente de ser pandemia ou não”, relata Maricésar.
Ter a possibilidade de ser imunizada, então, é algo muito animador para a família. A filha Maria Paula descreve bem o sentimento: “Tenho vontade de não ser contagiada e nem contagiar os outros. A pandemia me deixa numa situação de ansiedade e medo. Por isso, a vacina é uma oportunidade pra mim”, afirmou.
É uma oportunidade tão bem vista por Maria Paula que o medo de participar do teste é algo que ela deixou de lado. “A gente é muito governado pelo medo e se todos levassem isso em conta, não ia sair vacina. Vejo como um ato de coragem”, afirmou. O médico Claudio Ferrari destaca que o objetivo do estudo é justamente comprovar a eficácia e a segurança da vacina.
“Os dados que nos chegaram do Reino Unido, após mais de seis mil pessoas receberem a vacina, é de que ela é segura, mas isso deve ser comprovado ao longo deste estudo global”, afirmou. No total, no mundo todo serão 50 mil voluntários. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta é a vacina mais avançada em testagem no mundo.
Ciência
A estudante de jornalismo Carol Magalhães, 21 anos, confia na segurança do estudo.
“Se tiver efeito coletareis, acho que deve ser algo pequeno. Até porque se fosse maior, eles não estariam fazendo uma chamada ao público tão grande. Tenho confiança nas instituições que estão por trás desse estudo”, afirmou.
Carol não faz parte do grupo prioritário, profissionais da saúde ou ter alta exposição ao vírus. “Mesmo assim, eu espero ser chamada. Sempre tive curiosidade de saber como funciona um estudo como esse. E também é importante auxiliar na pesquisa científica, de forma geral”, disse.
Essa também foi a motivação das primas Ariane e Débora Santos. A primeira trabalha na área de saúde, como técnica de farmácia, enquanto a segunda é estudante de técnica de enfermagem e queria estar trabalhando na sua área nessa pandemia. “Eu gosto dessa área de saúde e, como ainda não posso trabalhar, essa é a forma que encontrei de ajudar. Espero que eu seja escolhida, para dizer no futuro que ajudei a combater o coronavírus. Estou muito ansiosa para receber o contato deles, igual criança que deseja chocolate”, disse, aos risos.
Já a enfermeira Maria Silva*, 44 anos, quer mesmo é ficar imune do vírus e poder visitar os pais no interior, o que não acontece desde fevereiro. “Tenho saudade da minha família e quero muito que volte tudo ao normal logo. Quem é da saúde não consegue tirar férias nesse período, o que impede que façamos qualquer viagem com um protocolo de segurança”, disse.
Se você pensa que só mulheres se inscreveram, o CORREIO encontrou um homem corajoso que também deseja ser voluntário do estudo. “Assim que começou a pandemia, eu estava bem tranquilo, mas comecei a ficar abalado com o passar do tempo. Então, comecei a abraçar toda oportunidade que surgisse para a gente sair dessa situação”, afirmou Igor Menezes, 36 anos. Por ser dentista, ele tem contato direto com a população. “Assim que abriu as inscrições, corri para fazer. Quero muito ser selecionado e ser imunizado”, afirmou.
Confira algumas perguntas frequentes sobre o assunto:
Quem pode se inscrever no estudo?
Os voluntários devem ter entre 18 e 55 anos, ser profissionais de saúde ou ter alta exposição ao vírus, e não podem já ter contraído a Covid-19.
Como é feita a inscrição?
Através do site do Instituto D’Or. O interessado vai preencher um cadastro e colocar informações verdadeiras. Ainda não há data limite para o encerramento das inscrições.
Como será a seleção?
Se as respostas estiverem dentro dos critérios principais de elegibilidade, o candidato poderá ser convidado a participar da testagem, que tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
Como será feito o estudo?
O estudo feito é do tipo simples-cego e randomizado, isto é, metade dos voluntários receberão a vacina de Oxford e a outra metade uma vacina controle, que não tem imunidade. Eles não saberão qual o tipo de vacina que receberam.
Quem for selecionado vai ter que mudar algum hábito da sua vida?
Não. É importante que os voluntários selecionados mantenham o mesmo comportamento diário e grau de exposição ao vírus, para o grupo avaliar a eficácia da vacina na proteção contra a Covid-19.
Onde o estudo vai ser feito em Salvador?
A seleção e acompanhamento dos voluntários ocorrerá nas instalações do Hospital São Rafael, que pertence ao Instituto D’Or.
Pessoas do interior baiano ou Região Metropolitana (RMS) podem participar do estudo?
No recrutamento, será dado preferência para os voluntários que morem em Salvador, pela facilidade de acesso ao centro de pesquisa para realizar o seguimento do estudo.
Por quanto tempo o interessado deve manter contato com o grupo?
Durante 12 meses. Esse tempo é longo, pois a equipe médica vai acompanhar como os voluntários se comportam durante o período. Isso não significa que a vacina só ficará pronta daqui a um ano, uma vez que o estudo já está mais adiantado em outros lugares do mundo.
Como essa vacina foi desenvolvida?
Através do processo de aceleração pelo uso da tecnologia por vetor de adenovírus símio, que já vem sendo testada há alguns anos pela Universidade de Oxford em estudos de outras vacinas candidatas para diferentes agentes infecciosos, como Ebola e MERS. A vacina utiliza uma tecnologia onde um vírus não replicante, não infeccioso, serve de carreador para parte do coronavírus modificado e não infeccioso. Acrescenta-se a proteína de superfície (spike) do vírus SARS-CoV2, para gerar a resposta do organismo contra ele.
Como a vacina deve se comportar no organismo?
Após a vacinação, o sistema imunológico promove uma resposta imune à proteína do coronavírus, levando a produção de anticorpos e de outras células de defesa capazes de proteger o indivíduo contra a doença covid-19.
Fonte: Correio da Bahia
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