Delator recebeu R$ 16 milhões em 3 parcelas da Camargo Corrêa

SÃO PAULO – Dono de três empresas usadas para repassar propina e depositar dinheiro a partidos e políticos, o executivo Júlio Gerin de Almeida Camargo não prestou serviços apenas à Toyo Setal, empresa que o levou a assinar acordo de delação premiada na Operação Lava-Jato. A movimentação bancária da Treviso Empreendimentos, uma das empresas de Júlio Camargo, mostra que ele recebeu R$ 16,8 milhões da Construções Camargo Corrêa, em três depósitos de R$ 5,631 milhões, entre julho e setembro de 2012. A mesma conta também recebeu dinheiro do consórcio Camargo Corrêa/Promon/MPE e da UTC Engenharia, e serviu para enviar a propina para o exterior.

O valor depositado pela Camargo Corrêa é o dobro dos R$ 7,4 milhões depositados na conta da Treviso pelo Consórcio TUC, que incluía, além da Toyo Setal, a Odebrecht e a UTC. Os repasses do Consórcio TUC começaram em janeiro de 2013 e três deles foram feitos este ano — o último no dia 17 de março passado, mesmo dia em que a Polícia Federal deflagrou a Lava-Jato.


A Toyo Setal informou que Júlio Camargo prestava serviços como consultor, não como contratado. Por isso, atuava também com outras empresas. Segundo a investigação, de uma conta na Suíça, no Banco Cramer, foram identificados U$ 2,250 milhões em repassasses para as offshores Volare, Vigela e Persempre, com titulares ainda não identificados. Também foram achadas remessas para o banco Merrill Linch, em Nova York, de US$ 2,5 milhões. No WinterBotham a conta foi aberta em nome da Piemonte, outra de suas empresas, e foram feitas remessas para três offshores.

Júlio Camargo afirmou ter feito depósitos em contas de Fernando Soares, apontado como operador do PMDB na diretoria da Petrobras, e de Renato Duque, diretor de Engenharia e Serviços, apontado como arrecadador de dinheiro para o PT.

No acordo, Júlio Camargo se comprometeu a pagar R$ 40 milhões em multa. Em troca, deverá ser condenado a no máximo 15 anos de prisão, pena que não será cumprida atrás das grades. Ele terá direito a cumprir a pena em regime aberto por três (mínimo) a cinco anos (máximo), prestando 30 horas de serviços comunitários mensais, e apresentar a cada dois meses um relatório de atividades. Poderá viajar dentro do país sem pedir autorização à Justiça e, em caso de viagens ao exterior, poderá fazer o pedido com apenas uma semana de antecedência.

Na campanha de 2010, Camargo apareceu em lista de 39 financiadores milionários de campanha, feita pela ONG Contas Abertas, que reuniu os que doaram mais de R$ 1 milhão.

Acordo semelhante foi firmado com Augusto Mendonça Neto, sócio da Toyo Setal por meio da SOG Óleo e Gás. Dono de 17 empresas, Mendonça Neto negociou uma multa bem menor, de R$ 10 milhões.

O Globo

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